“Comciência” é a primeira grande exposição individual de Patricia Piccinini no Brasil, onde reúne esculturas, vídeo, fotografia e desenho dos últimos 15 anos de sua prática. O título é um neologismo em Português, combinando as idéias de ciência e consciência e essa consciência alude o interesse da artista em descobrir o sentido de ser humana no âmbito da engenharia genética e em biotecnologia, e como essas tecnologias influenciam na maneira como nos relacionamos com o mundo.Piccinini trabalha com uma variedade de materiais e linguagens, de esculturas hiper-realistas feitas de silicone e fibra de vidro, fotografia e vídeo, bem como desenho e pintura. Sendo assim, o Centro Cultural Banco do Brasil peca pelo excesso, ao tentar abranger 15 anos de uma produção artística tão plural e distinta em sua linguagem. Além desse excesso, há uma tentativa quase desesperada em explicar os trabalhos. A começar por um audioguia instrutivo, até textos pseudo-explicativos que guiam o público a um pensamento comum. Em um de seus textos sobre o seu trabalho Like Us, disponibilizado apenas em seu site, a artista diz: “Eu não estou tentando dizer às pessoas o que pensar, eu estou mais interessado em como se sentem, e em oferecer-lhes um espaço para refletir”. Essa consideração parece não corresponder à estratégia adotada pelo curador Marcello Dantas que, na tentativa de tornar a exposição popular, empobreceu o discurso das próprias obras. Para o matemático estadunidense Claude Shannon, autor do livro A teoria matemática da comunicação, informação é tudo aquilo que reduz a incerteza. Partindo dessa premissa os textos da mostra passam a ser “não-informação”, pois inviabilizam a hierarquia de valores do receptor, impossibilitando-o de avaliar o que é de fato fundamental e o que é supérfluo. Sendo assim, fica claro o motivo da exposição ter atingido em sua maioria o público infantil. Numa sociedade em que há informação demais e tempo de menos, os excessos de “esclarecimentos” se mostram desnecessários e até desrespeitosos com o público, pois seu discurso superficial e tendencioso acaba limitando o espectador de um pensamento crítico sobre as obras.“Comciência” se propõe a discorrer sobre aceitação, num cenário onde criaturas modificadas geneticamente convivem com humanos em harmonia. Apesar do incômodo e da estranheza das criaturas, através de empatia e afeto o espetador estabelece uma conexão com elas e assim as aceita como iguais. De acordo com a proposta, essa compreensão nos faria questionar nossos próprios sentimentos, ampliando nossa percepção sobre questões complexas e delicadas como a imposição de padrões de beleza, o racismo e a xenofobia. Como Patricia costuma dizer que seu mundo é mais repleto de perguntas do que de respostas, deixo aqui alguns questionamentos bem razoáveis: por que todas as criaturas e humanos representados possuem a pele branca e olhos azuis? Como questionar padrões de beleza enquanto apenas esse padrão esta sendo retratado? Nascida em Serra Leoa na Africa, Piccinini parece ter se esquecido de onde veio ao se mudar para a Austrália. Sendo uma artista que expõe em diversos países diferentes, Patricia deveria se preocupar em uma melhor representação do seu discurso, principalmente para o seu público-alvo que aparenta ser as crianças.
Breve biografia da artista:Patricia Piccinini nasceu em Freetown, em Serra Leoa em 1965 e mudou-se para Austrália com sua família em 1972. Estudou pintura na Faculdade Victoria de Artes de Melbourne e, logo após finalizar sua graduação, ingressou no projeto Basement Gallery, na qual foi coordenadora durante dois anos. Desde então ganhou o prêmio Austrália Council New Media em 2001 e a residência Austrália Council em 2006, sendo convidada a expor em diversas instituições de cultura, museus e galerias.
Referências Bibliográficas: • Jornal do Brasil. (2014). CCBB: ComCiência mostra criaturas geneticamente modificadas. Disponível em http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2016/04/24/ccbb-comciencia-mostra-criaturas-geneticamente-modificadas/ [Acesso em: 16/05/2016]• Arteref. (2013). O curioso universo de Patricia Piccinini. Disponivel em http://arteref.com/artista-da-semana/patricia-piccinini/ [Acesso em: 30/05/16]• Braga, Ryon. (2010). O Excesso de Informação - A Neurose do Século XXI. Disponivel em http://www.mettodo.com.br/pdf/O%20Excesso%20de%20Informacao.pdf [Acesso em: 24/04/16]• Deleuze, Gilles. (2000). Gilles Deleuze: uma vida filosófica.