Leituras para mover o centro é uma exposição da carioca Ana Hupe, apresentada pelo prêmio CCBB Contemporâneo. A instalação tem como conceito ser uma sala experimental de leitura, que conta com fotografias, vídeo e alguns objetos.
Com o intuito de destacar a literatura negra feminina, a artista fotografa e coleta depoimentos de imigrantes afro-descendentes, africanas e haitianas no Brasil e Alemanha. Junta esses relatos de suas próprias histórias com narrativas de seus livros favoritos, criando um texto fabular para cada personagem e as dispõem em molduras de alumínio que dão uma noção de resistência física, política e poética.
A instalação ainda conta com dispositivos de leituras para o público, com títulos que serviram de referência para a mostra: literatura afro-brasileira, crítica literária pós-colonial, dicionários de línguas africanas, textos sobre religiosidades negras, entre outros e um vídeo da série “Colonizados”, que junta depoimentos das pessoas fotografadas com elementos tirados da natureza, como conchas, besouros, borboleta, penas, corais etc. coletados na África do Sul.
Em seu texto curatorial Natália Quinderé escreve “A artista caminha na corda bamba. Em uma ponta, utiliza práticas semelhantes às da política colonial (coleta, análise e invenção de tipos) para ficcionalizar um sujeito que se apresenta a partir de sua mediação. Na outra, fábula as histórias vividas por essas guerreiras que foram à lua e desceram aos confins da terra. Ana Hupe abraça o risco e expõe a força coletiva necessária para mover o centro”.
Pensando nisso a exposição proporciona alguns questionamentos. Uma artista branca tem lugar de fala quando se trata de questões raciais? A exposição seria um olhar etnocêntrico sobre os negros? Ela teria chance nesse mesmo espaço expositivo se não fosse branca? O texto curatorial não poderia ser escrito por um(a) curador(a) negro(a)? Até quando os negros vão precisar do olhar do branco para ter visibilidade?
Essas perguntas se fazem necessárias quando a proposição de uma “descolonização” é proposta por uma artista branca que se utiliza de corpos negros para a sua pesquisa, tirando a possibilidade do protagonismo de sua própria luta. Nesse contexto a exposição traz uma sensação dúbia, pois ao mesmo tempo que nos faz indagar essas questões problemáticas, ela informa e traz visibilidade a literatura negra que foi e ainda é apagada na nossa história.
Referências bibliográficas:
Natál
ia Quinderé (2016). Disponível em CCBB (texto curatorial). Consultado em 20/05/2016]
Disponível em www.anahupe.com. [Consultado em 28/05/2016]
Disponível em http://culturabancodobrasil.com.br/portal/premio-ccbb-contemporaneo-7/. [Consultado em 28/05/2016]
Canal - Arte. (2016). Leituras para Mover o Centro - Ana Hupe. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Wa0loCHiPuw. [Consultado em 29/06/2016]
Alexandra Araújo Bispo e Fabiana Lopes (2015). Presenças:A performance negra como corpo político. Disponível em http://media.wix.com/ugd/1bec16_e6aba7fa93b6427a85006612492cf1a5.pdf. [Consultado em 30/06/2016]