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É necessário avisar ao presente leitor

É necessário avisar ao presente leitor alguns tópicos antes de adentrar no objeto em si. Se é que haverá um leitor, questão essa com a qual ocasionalmente me deparo; será que o que escrevo encontrará um leitor? Eu digo eu. Eu percebo minha atitude pessoal. Eu temo o anonimato. Eu escrevo. Eu faço uso da palavra.

Quando escrevo, sinto que a solidão constante que vivencio se dissipa. Como se ao escrever pudesse automaticamente ser ouvida, como se achasse na palavra um confidente. Essa no entanto é, bem sei, uma falácia. Sinto que sou como Nancy Holt no video de Richard Serra, falando em loop e escutando a mim mesma.

Nancy Holt e Richard Serra, Bomerang, 1974.

Ao falar em loop me confundo, sinto agora tremenda dificuldade para colocar as palavras no papel, as ideias que tive mais cedo e que pareciam antes tão claras agora parecem opacas. Escrevo com sono, escrevo pois preciso escrever. Preciso entregar textos para a faculdade, preciso escrever para ser ouvida , preciso escrever para fazer sentido para mim mesma. Preciso preciso zo zo preciso zo escrever escrever er er r.

Escrevo agora em fluxo, quero fazer este exercício. Senti a necessidade de voltar ao que disse antes para mudar a estrutura, mas não o farei. Quero escrever me escutando. Acho importante escrever como escrevo pois este texto tem aqui um lugar fundamental. Este texto é em si um Site-specific. Se alguém está lendo este texto sabe para onde ele foi pensado. Sim, é aqui. Se por ventura este texto for removido ou o site apagado seu destino é a morte. Se for o caso, esta frase não será jamais lida. De certo modo escrevo agora uma morte/vida tal qual o gato de Scrodinger

Gustavo Torres, Contagem Regressiva, 2015

Uma vez me foi dito que a pior forma de se escrever um texto era colocar nele as coisas que se estava pensando no momento. Então certamente este texto será, por essa pessoa e aquelas em sua entourage, considerado um texto terrivelmente mal escrito. Curiosamente ainda estou o escrevendo. Ele sobrevive. Sobrevivo. Acho que é a hora de revelar que este texto é o objeto de si próprio. Confesso que voltei para editar algumas coisas.

Me pergunto se o que escrevo é importante. Sinto constantemente uma dúvida sobre meu trabalho. Eu recebo para escrever. Acredito que escreva bem. O suficiente para ser pago? É trabalho, mereço ser pago. Às vezes ao escrever esqueço o que quero escrever. Esta frase por exemplo, não quer dizer absolutamente nada. E ainda assim eu decido escrevê-la. É impressionante o poder que a palavra tem, especialmente a palavra escrita. Parece-me que o simples (simples?) o ato de escrever, a decisão de registrar, de solidificar o que se pensa carrega em si uma enorme carga simbólica. Simbolo é palavra, palavra é simbolo.

A história tradicional define o começo da história de fato quando o homem descobre a linguagem, há aproximadamente 5000 anos A.C.. Fayga Ostrower, em conferência, disse que isso se deve ao reconhecimento, por parte do homem pré-histórico, de sua própria mão e do poder que ela tem. Ela escreve também que quando diz isso todos olham institivamente para a propia mão. Eu agora olho minhas mãos escrevendo, pairando sobre as teclas, escrevo rápido. Acho lindo.

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Uma Revisão 100 anos depois


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